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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Noruega ainda

O nosso amigo Nelson enviou-me no sábado, 3 de Setembro (após 3 meses sem notícias) um email com a notícia da interrupção da sua viagem, tendo trocado a sua condição de viajante pela de "emigrante", ou melhor convertido à condição de "emigrante viajante", já que encontrou emprego como camionista. Não nos informa muito sobre o desempenho profissional mas envia o seu último texto para o blog que pode ser lido em aqui.
Abraço e votos de felicidades, por cá continua a crise económica mas temos sol :-)

sábado, 3 de setembro de 2011

Noruega (continuação)


Noruega, continuação…

Nesta viajem tenho aprendido algumas coisas… uma das quais é que tinha alguns pré-conceitos quanto às nacionalidades das pessoas, o que é totalmente errado! Valorizar pessoas de nacionalidades de países mais ricos é um erro, é valorizar os bens materiais em detrimento do verdadeiro valor de cada individuo.
Os romenos foram impecáveis para mim, deram-me boleia, jantar, estadia de 2 noites e ainda me disseram que podia ficar mais tempo, e quando parti, deram-me 2 ovos para cozinhar e toucinho. 
Actualmente são carpinteiros e trabalho não lhes falta, pois existem muitas casas em madeira. Pediram dinheiro ao banco, e compraram casa e um pequeno parque de campismo com casas de madeira para alugar.
No jantar que tive com eles, tive a ousadia de dizer que pensava que os romenos levavam o tempo a pedir dinheiro nas ruas, e que não gostava deles até porque não pareciam de confiança. Ele disse-me que isso é verdade, que concorda comigo, mas são os ciganos romenos que o fazem.
…parto de Edland, e sigo viajem pela estrada 362, com as baterias carregadas de calor humano que recebi por parte destes romenos. A estrada é mais pitoresca e mais a subir, o que não é problema. Mas as frieiras fazem-me sofrer muito, e quando pedalo as frieiras nos pés provocam-me dores terríveis. Também tenho nas mãos… as mãos estão inchadas, tenho muita comichão, é muito desconfortável, um momento de sofrimento posso dizer. Raramente tive frieiras durante a minha vida, e nunca desta forma.
Enquanto subo  o montanha, vou pensando que tenho que sair deste país o mais depressa possível. Este clima é demasiado agreste para viajar de bicicleta. Embora já tenha passado pela pior zona, o frio continua, céu cinzento, às vezes chove um pouco e tenho bastante presente na minha mente, os maus momentos passados na montanha com neve. Tenho calor quando subo, depois estou suado e a camisola de lycra, afinal não é tão boa para deixar passar a respiração, e fica molhada. Por isso começo a sentir frio… calor e depois frio, calor e depois frio, e assim sucessivamente, não dou com o meio termo, e a temperatura é fundamental para nos sentirmos bem. Depois da subida paro para comer junto à estrada. Existe mesa e bancos, mas não me sento, aqueço raviolis enlatados, está frio, como de pé porque não me apetece sentar no banco molhado e frio, ameaça chover, vejo casas de madeira no meio da montanha, um riacho… depois penso: “é final de Maio…, a paisagem é bonita, mas que graça tem uma viajem de bicicleta com um frio destes? O sol e o calor é tão importante.”
Quero referir que a roupa é um aspecto de extrema importância, para quem quiser viajar nestes países e de forma exposta aos elementos naturais. A Noruega está praticamente toda coberta de montanhas e montes, e o clima pode ter variações extremas no mesmo dia.
Todas as peças de roupa devem fazer evacuar bem a transpiração para não ficarmos molhados quando suamos.
Aconselho imperativamente uma camisola (primeira camada) em tecido sintético ou um misto de Merino Wool e sintético, esta última é mais quente (wool=lã que serve para nos manter quentes e sintética para ajudar a evacuar melhor a transpiração). Por cima da camisola devemos utilizar uma camisola com fecho corta vento e com algum aquecimento. Se estiver a chover deve ser utilizado um casaco mais completo, do tipo apresentado nas fotos. O casaco talvez seja a peça mais importante, é uma espécie de “castelo” para quando o clima é realmente agreste, e deve ser impermeável, de aquecimento, que deixe evacuar a transpiração e não demasiado pesado pois temos que o transportar sempre.
Para o final do dia, ter uma camisola 100% Merino Wool e um forro polar é importante, mas se estiver calor, obviamente uma t-shirt é o melhor.
Calças de Lycra com pêlo e calças impermeáveis, estas últimas se forem respiráveis melhor.
Merino Wool é um tecido 100% lã, muito quente proveniente de alguns tipos de ovelha Merino.
Durante muito tempo em Portugal, perguntava-me qual era a roupa mais quente, qual a melhor forma de me vestir para combater o frio, ouvia sempre as pessoas a queixarem-se do frio, e questionava-me como é que as pessoas dos países frios se vestiam… a resposta é: as pessoas dos países frios usam e abusam de tecidos 100%  lã, nomeadamente Merino Wool na roupa interior e meias (espessas). Depois vestem uma camisola de lã ou um bom forro polar de lã ou sintético mas espesso e de boa qualidade, depois vestem um bom casaco de aquecimento e impermeável, caro mas bom. Quanto ao calçado, usam botas de montanha à prova de água Goretex… e existem botas de montanha com um cano realmente muito alto, para a neve não entrar para dentro das botas.
Há uns dias atrás fui a uma super loja de material de desporto, sentei-me num banco em frente às botas de montanha… fiquei espantado com a diversidade apresentada, depois os casacos… vi casacos que custam 750€. As mochilas de montanha são gigantes,  algumas têm capacidade para 125L.
Durante o dia ou numa saída à noite e com roupa mais bonita, muitas pessoas utilizam casacos que em Portugal seriam considerados desportivos e supostamente “não fashion”, mas que aqui são considerados bastante cool. São casacos impermeáveis (de aquecimento ou não) e muitos deles com cores fluorescentes e com reflectores.
Já vi também pneus para bicicleta com picos de ferro, (nos carros também) para serem utilizados no inverno, e têm mesmo de ser utilizados se quisermos andar de bicicleta, e mesmo assim é preciso um cuidado redobrado ao andar com gelo na estrada.
…é tarde, tenho que terminar o dia e acampo em frente a um lago, tenho uma paisagem de luxo e tenho à minha disposição 3.5L de leite puro de vaca oferecido numa vacaria uns kms antes. Não consigo parar de o beber. Depois de barriga quase a estoirar de tanto leite puro, um banho no lago… “Leite e água fria não são bons para a digestão.”-poderão dizer. “O meu corpo há muito que deixou de ter esse tipo exigências...”
No dia seguinte chuva para variar, e depois de um dia de chuva, sabe bem um tecto que não a tenda, pois poderei estender a minha roupa para enxugar. Resolvo bater a uma porta de uma quinta e pergunto se posso dormir debaixo de um alpendre, na casa do gado… “não”- é a resposta”. Tento pensar positivo, treino a minha mente para isso todos os dias, pois a adversidade está presente em muitos momentos, e o optimismo e a persistência são factores necessários. Não desisto e bato a outra porta uns kms a seguir. Vem uma senhora à porta, com mais de 50 anos… Conversa comigo de forma agradável e com simpatia (“estão a ver?, nem todos são iguais, não venho pedir dinheiro, apenas um tecto para pernoitar”), o marido não está mas vai chegar daqui a algum tempo, vou ter que esperar mais um pouco. Por isso leva-me até a um bonito alpendre com mesa e sofás, para aguardar. Continuamos a conversar, mais uma história de vida… toca-me bastante recordar esta história. “Os meus pais emigraram para a Califórnia nos EUA, em busca de trabalho,  e vivi lá até aos 16 anos. O clima era maravilhoso! Fiquei com pena de vir para a Noruega. Durante toda a minha vida pensei em regressar à Califórnia… aqui o clima é severo (diz estas palavras com uma tristeza comovente, por não o ter feito, percebo de imediato que este era um desejo demasiado valioso para esta  mulher, e que não concretizou). Os meus pais tinham uma família pequena, e eu tinha o sonho de ter uma família grande, tive filhos e depois netos, e acabei por nunca regressar à Califórnia. “
Engraçado… ainda agora comecei a conversar com esta senhora e já estamos a falar de coisas tão profundas, que me comovem. É um momento mágico -penso.
Entretanto chega o marido… fico a dormir numa casa de madeira, cavalariça e palheiro (adoro estes locais). Observo que têm amor pelos cavalos… estão expostas fotografias de cavalos, várias crinas penduradas.
…sigo viagem, chego a Heddal, paro e penso que tenho que acampar, entretanto vem um carro com um casal nos 60`s, e começam a conversar comigo, fico a acampar primeiro no seu jardim, depois na varanda da moradia. São donos da bomba de gasolina mais bonita da Noruega, de acordo com o que eles me dizem (construída em madeira). Fiquei aqui mais de 1 mês..
Já passaram 3 meses e ainda sofro devido ao frio que apanhei nas montanhas, tenho as extremidades dos dedos das mãos com uma sensação de “formigueiro” e os dedos das mãos gelam-me muito mais facilmente com pouco frio.
A médica aqui na Noruega, aconselho-me a dormir à noite com umas luvas 100% lã, e se poder também o devo fazer durante o dia. O frio afectou-me a circulação na extremidade dos dedos das mãos…
Entre umas saídas a Oslo , pesca no rio, caminhada na montanha, uma ida a uma competição de carros de Turismo (Gatebil) e andar no Toyota Supra de 800cv do filho dos donos da casa onde estava acampado, andar num autocarro de 1º andar auto-caravana, entre outras coisas, nem tudo se conta…, tem sido um cocktail de experiências muito enriquecedoras num espaço de tempo tão pequeno…
Entretanto conheço 2 casais portugueses de Setúbal, convidam-me logo para jantar em suas casas, para sair com eles. E depois mais portugueses do Porto, Tomar, Lisboa etc… é bom encontrar portugueses, numa terra tão distante. Agradeço, aos portugueses aqui na Noruega, que me ajudaram muito, nesta fase inicial de viver num novo país, foram  5 estrelas!
Entretanto, sou entrevistado por um jornalista do jornal de Notodden, e o jornal sai com uma página inteiramente reservada à minha viagem. Gosto de pessoas com entusiasmo, e este jornalista mostrava entusiasmo pelo seu trabalho e pela minha história… foi analista em Oslo de qualquer coisa (não me recordo), mas tinha o sonho de ser jornalista, e mudou de actividade profissional. Por isso compreende-me quando lhe disse que ter feito esta viagem foi fácil. …”porque quando gostamos, nada custa, tudo é por prazer, têm-se uma fonte inesgotável de ideias e soluções. o segredo é o amor pelo que fazemos.”- Disse-lhe. Ele sorri para mim, e compreende-me.
No dia anterior à minha partida, houve quem verificasse o peso da minha bicicleta e tivesse dúvidas sobre a concretização do meu objectivo, chegar à Noruega. “ Tens que retirar peso à bicicleta” -Diziam-me.
E aquela bicicleta carregada de malas, e muito pesada sempre se moveu com uma facilidade tremenda…
… Entretanto mudo-me para outra cidade.
Depois, mais saídas a Oslo… é sábado, um jantar com portugueses, espanhóis, noruegueses, franceses. Fala-se espanhol,  e a música é espanhola também, a comida está óptima. Algumas das pessoas presentes no jantar já fizeram uma viagens por alguns países mais excêntricos (Cazaquistão, Mongólia, países africanos etc), contam-se histórias, o ambiente naquele momento… sinto que neste momento estou a viver intensamente. Vou até à varanda… existe um pátio nas traseiras dos edifícios só acedido pelos moradores. O pátio tem árvores mesas e cadeiras, suportes para estacionar as bicicletas… como é sábado é dia de festa, e da varanda ouço outras festas em outros apartamentos… música alta, espalhafato, comida e muita bebida, é sábado com certeza, aqui todos os sábados são assim. Depois discoteca… e o ambiente é de atrevimento e sensualidade.
Outro dia… ida a um concerto em Oslo. Uma rua com aspecto de bairro mais “dark”, uma tabela de basket pendurada na parede de um prédio, de repente vejo um candeeiro pendurado no meio da rua, daqueles feitos de muitas peças de vidro que qualquer pessoa tem em casa, mas este tem 4 metros de altura e está iluminado, um contraste fixe. O concerto… já tinha visto aquele ambiente na tv, tipicamente nórdico… entre hard rock e muito boa música, com um grupo de amigos de várias nacionalidades, bem fixe.
A Noruega tem uma natureza presente por toda a parte, existe imensa floresta, lagos e fiordes. Fiz uma pequena viagem de carro com uns amigos no meio da floresta, próximo da cidade de  Notodden, de repente um alce gigante atravessou a estrada. Existem também muitos veados.
Em Drammen… no meio de um jardim vejo uma rapariga em cuecas e soutien a apanhar sol, a mesma coisa acontece no jardim junto ao rio, é normal.
Quase todos os taxistas de Oslo e de outras cidades, são paquistaneses. Aqui existem muitas pessoas do Paquistão, India e de outros países da mesma região do globo. Muitos noruegueses costumam casar-se com mulheres das Filipinas, muitas vezes eles são muito mais velhos que elas.
Outro dia vejo uma menina que deveria ter uns 6 anos, subia um poste de iluminação, deveria estar a uns 4 metros de altura, o pai observava-a normalmente a partir do chão. Julgo que a atitude generalizada dos pais aqui, é deixar os filhos fazer “coisas”, e não lhes bater, não recriminá-los mas ajudá-los a irem mais além.
Vejo uma senhora na casa dos 70 que utiliza uma trotinete de 3 rodas para se apoiar, numa descida ela monta-se na trotinete. Também já vi pessoas que vão apanhar o comboio para irem para o trabalho, e vão de trotinete até à estação. Falo na trotinete, mas existem outras coisas além da trotinete. O que eu quero dizer, é que em Portugal existem demasiados pré-conceitos… quem utiliza as trotinetes são as crianças, nunca um adulto, pois seria imediatamente conotado como “maluco”. Gosto muito de Portugal, mas a nossa cultura é antiquada neste tipo de coisas. Lembro-me sempre ter andado muito de bicicleta, andar nas ruas de patins em linha, e perceber na face das pessoas que elas pensavam que aquelas coisas eram coisas de “miúdos”, e eu já tinha 35 anos. Cruzei toda a Europa, e percebi que em todos os país que passei, se utiliza muito mais a bicicleta, anda-se mais a pé e os adultos fazem coisas que em Portugal é atribuído às crianças.
Vejo pais a fazer a sua corrida após o dia de trabalho, correm e empurram uma cadeira de rodas com a sua criança, a criança não fica em casa.
No Verão, a costa norueguesa, beneficia das correntes do Oceano que vêem do México, e a temperatura da água em média ronda os 20 graus.
A Noruega é um país rico, “tem muito mel debaixo do chão” (leia-se petróleo), por isso, os norueguese têm uma pseuda-superioridade em relação a qualquer dos países vizinhos. Os preços das coisas neste país, faz “tremer” qualquer cidadão que o visite.
Agora, estou um pouco curioso como será suportar temperaturas de -25º no inverno… ouço falar de que o primeiro gelo não se vê, parece que a rua está limpa, mas depois vamos andar e caímos porque o chão tem uma fina camada de gelo muito escorregadia.

É isto que traz a viagem, momentos diferentes do dia a dia, coisas que nunca vimos, relacionar-nos com muitas pessoas, novas oportunidades, sensações diferentes, imagens diferentes, alargamos o nosso campo de visão, fica-se mais experiente sem dúvida. Quanto aos momentos difíceis, que também existem, servem para nos ensinar coisas interessantes. Sim, os momentos maus devem ser encarados de uma perspectiva diferente, não devemos ficar paralisados na perspectiva má… é como num desenho, alteramos a perspectiva e aí temos nós uma nova visão das coisas, saber tirar partido a nosso favor do que supostamente seria mau (visão budista).
Às vezes quase parece estranho, viver tantas emoções num espaço de tempo tão pequeno… dormir em várias casas, no meio de florestas, em frente à porta das igrejas (algumas vezes próximo das campas fúnebres), ofereceram-me refeições quentes e leite puro, conversar com desconhecidos que me mostram o seu melhor lado. Muitas vezes, partia de manhã comovido com a hospitalidade recebida, e reforcei a minha ideia que as pessoas são boas na generalidade.

E pensar que acabei de realizar mais uns sonhos… perdem-se uns, apostam-se noutros, o importante é alimentar a chama da vida.
No fim desta viajem acabo por dizer: “esteja-se onde se estiver, viaje-se ou não, onde houver amor, aí poderá ser o nosso lugar… mas lá que a viagem nos encanta, isso não há dúvida”.


Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.

(Sebastião da Gama)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

18 Km depois de Roldal: Não andei, mau tempo, queda de neve, frio e vento forte. Estrada interdita.

Olá
Estou em Edland na Noruega e o frio tem apertado como nunca.
O objectivo Cabo Norte não é possível para já. Mais histórias na página Noruega

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Noruega

Entro na Noruega a pensar que poderei ir até ao norte, fazendo de Larvik (onde cheguei) para sul, e depois fazendo a costa ocidental. Mas este, não é um país como os outros que encontrei, em variados aspectos…
Também aqui na Noruega tentei fazer o caminho 1 (para ciclismo e pedestre), mas perdia-me facilmente, pois esta sinalética é muito espaçada aqui na Noruega. Outro aspecto é que a sinalética me mandava fazer fora de estrada em montanha, o que se torna muito penoso para quem vai tão pesado, e quer de alguma forma ser mais rápido na progressão.
Depois tenho a sinalética própria do país, que me indica (sinal azul com uma bicicleta, e indicando a cidade para a qual me dirijo) um caminho alternativo à estrada principal, sem inicialmente saber o porquê (tive que aprender…), e não existindo inicialmente (só depois) sinalética a proibir os velocípedes. E entre seguir uma e outra sinalética, perdi-me várias vezes no dia a seguir à minha chegada, onde tive muita chuva, subidas…foi um dia mentalmente desgastante e em que só fiz 18 kms.
Então, nos dias a seguir sigo pelas estradas principais (nacionais e regionais), ao longo da costa (de Larvik para sul), fazendo mais de 100kms por dia durante vários dias(134kms num dos dias). Num dos dias, ignoro a sinalética que diz que os velocípedes deverão ir por outro caminho abandonando a estrada principal. Ignoro, até porque não existe o sinal de proibição. Subida pela montanha, passo por uma portagem sem portageiro e com câmaras de vigilância, e é então que vejo o sinal de proibição para velocípedes. Mas já tinha subido demasiado e não quis voltar para trás, e começo a passar por muitos túneis que furam a montanha, um deles com 3200m e que parece não ter fim. Circulo atrapalhadamente e vagarosamente por um passeio extremamente pouco largo (e daí a dificuldade em circular nele), para evitar ser abalroado pelas viaturas que circulam a alta velocidade, um barulho ensurdecedor… saio de um túnel, sinto-me aliviado, mas um vento forte… encontro-me agora numa ponte muito alta e que liga as 2 montanhas.  Um episódio a não repetir.
Este objectivo de chegar ao norte da Noruega, estava-me a retirar o gozo continuo pela viagem, estava a fazer muitos kms por dia e em condições com bastante desgaste como o declive, a chuva e o frio (altamente depressivos), as frieiras nas mãos e nos pés e a ausência do calor humano, não podia comprar muito leite ou chocolate no supermercado porque é muito caro(3 ou 4x mais caro)… passei a não gostar da Noruega, passei a  detestá-la na verdade.
Num dos dias de manhã, saí da tenda a chover, e arrumei a tenda que ficou também molhada por dentro. Fiquei furioso e comecei a falar alto contra o tempo: “chove, chove mais, chove, chove a sério, mais mais mais…” e comecei-me a rir de tudo aquilo, e passei de fúria a diversão! Mas esta era apenas uma emoção momentânea.
Tive que abandonar a ideia de ir até ao norte da Noruega, disse para mim que não estava certo detestar este país por causa do clima e da minha ideia de querer ir tão a norte, que estava a ser injusto, e passei a querer encontrar algum amor por este país. Até porque os noruegueses estavam a ser muito bons para mim: ofereceram-me os jardins das suas casas para acampar, coberturas evitando montar a tenda, jantar, pequeno almoço, lanche, meias de lã muito quentes, usar a sua internet…
A zona costeira, os rios, as montanhas, os Fjordes…tudo isto é lindo, e o clima é uma característica intrínseca à localização do país no globo, tive que aprender que era assim.
Após circular pela costa ocidental até à cidade de Sandnes, resolvo dirigir-me para o interior em direcção à Suécia. Visito Preikestolen, uma conhecida falésia com 604m, onde acampo junto à estrada e com sinal de proibição de acampar, existe parque de campismo e hostel. Faço-o mais um casal francês, que se encontra de carro e em Lua de Mel.
Esta rota que faço agora é também maravilhosa, vou em direcção a Rodal. Pergunto a várias pessoas sobre os túneis que se encontram assinalados no mapa, um deles muito grande. A maioria diz-me que existem túneis que os velocípedes podem passar mas que alguns poderão não ser iluminados , o que será necessário o uso do meu frontal. Quanto aos outros túneis, os maiores, existe estrada contornando a montanha e que em principio já não haverá neve.
Até agora tudo se estava a confirmar, era como me tinham dito…alguns túneis sem luz, contorno montanha no caso de túneis mais compridos. Continuo a subir, chove… e quando chego a um túnel com 5650m diz-me que os velocípedes têm que contornar a montanha pela estrada antiga, mas a estrada está coberta de neve, e é impossível circular.
Começa a ficar frio, muito frio, o tempo começa a piorar, devo estar próximo dos 1000m e resolvo montar a tenda em frente de uma casa na montanha, até porque bati às portas das casas e ninguém atendeu, experimentei abrir as portas mas estavam fechadas. Uma das casas tem um alpendre e zona cimentada em frente da porta, o que me parece fantástico inicialmente. Tenho as mãos geladas, chove granizo e cai alguma neve, monto a tenda com dificuldade mas com a determinação necessária à minha sobrevivência.
Já dento da tenda, o saco de cama aquece-me, agora estou melhor penso… o vento começa a soprar forte e a querer levar a tenda que não estava presa ao chão, o vento é tão forte que algumas vezes pensei que me ia levar a mim e à tenda. De braços abertos, tentando fixar ao chão os cantos da tenda do lado em que sopra o vento, observo a tenda a ser sacudida com violência. Os sacos de viajem encontram-se no exterior debaixo do avançado outros fora, mas são pesados, não voam. O meu casaco colocado em cima dos sacos de viajem que se encontram debaixo do avançado como normalmente faço, desaparece… Decido ir à procura dele, colocando alguns sacos de viagem no interior da tenda para ela não ir com o vento. Levo comigo o meu frontal (luz colocada na testa), o telemóvel e um papel com um número de telefone de um bombeiro que conheci (tendo imaginado ficar sem as minhas coisas, o telemóvel seria a minha última salvação). Encontro o casaco, na estrada em baixo.
Já tinha pensado em ligar ao meu amigo bombeiro que conheci, ou à emergência, mas pensei em testar as minhas capacidades de sobrevivência e “esticar a corda” até onde pudesse.
Penso que a tenda não é um lugar seguro, o vento é fortíssimo, e vou procurar alguma casa de gado, alguma arrecadação. Tento abrir uma pequena casa, a porta abre-se…estou salvo. Agradeço a Deus esta dádiva, tinha-lhe pedido que parasse a chuva e o vento, e parou para mim, porque estou abrigado.
A casa tem pouco mais de 20 metros quadrados, parece estar meio abandonada, está vazia, apenas com uma mesa, uma cadeira. A noite foi terrível, com muito vento e neve, o dia a seguir a mesma coisa…
Passo 2 dias nesta casa à espera que o tempo melhore, penso atravessar o túnel (com 5650m) durante a noite(embora esta opção me desagrade pela experiência anterior) quando houver menos trânsito, ou então vou pedir boleia a uma caravana.
Mas, a 400m vejo 2 homens a reparar um telhado de um centro de viaturas de limpa neves, vou ter com eles para lhes perguntar sobre a previsão dos próximos dias. Não ia melhorar… dão-me boleia no seu furgão para passar o túnel e poderei acampar no seu jardim.
Enquanto vamos no caminho, reparo que a neve diminui progressivamente até deixar de existir, e confirmamos todos que aquele lugar onde estava, era mesmo o pior. Percorremos 30kms.
2 romenos a trabalhar à 4 anos na Noruega, super abertos e simpáticos, oferecem-me o jantar em sua casa com a família de um deles. 2 crianças pequenas, uma mulher simpática, um jantar parecido com o de Portugal, gelado na sobremesa. Depois vem um norueguês e continuamos numa conversa animada.
Fico a dormir numa pequena casa de madeira, pronta a alugar no verão aos viajantes. 

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Dinamarca

Na Dinamarca, faço toda a costa oeste, 5 estrelas!!!  Faço a route número 1 para caminhantes e bicicletas, umas vezes com alcatrão outras vezes fora de estrada…
Chego à Dinamarca ao final da tarde, e fico numa casa de palha que se encontra num pequeno jardim ao lado de um canal. É uma casa de palha e madeira tipicamente dinamarquesa, linda.
Parece um contra-senso, mas na Dinamarca vejo os primeiros acidentes na estrada, três para ser mais preciso..
Uma mulher que circulava de bicicleta foi atropelada por um automóvel, que só parou 80 metros depois na valeta no sentido contrário. Foi evacuada de helicóptero que aterrou na estrada. Os acidentes podem ocorrer, mesmo na Dinamarca.
Estamos todos parados na estrada por causa de um acidente, e chega um ciclista francês. Sylvean partiu de França e faz comigo toda a Dinamarca.
Percorremos toda a  costa oeste dinamarquesa. Circulamos por caminhos fora de estrada ao lado das dunas, passamos por pequenos povoamentos situados próximos do mar. Passamos por alguns locais inóspitos, muito secos. Sim, agora faz muito calor, há várias semanas que não chove, a vegetação está seca.
Quando percorremos estes povoamentos ao longo da costa, percebo que não ouço as pessoas, elas parecem não falar muito, e quando falam fazem-no baixinho. É literalmente assim, como descrevo. Se em Espanha e França todos me cumprimentavam calorosamente, aqui eu cumprimento as pessoas e muitas olham apenas para mim e não me cumprimentam à minha passagem, ou se cumprimentam, fazem-no com um simples gesto, salvo algumas excepções. Mais tarde acabei por encontrar alguns curiosos que vieram ter comigo para conversar, pessoas geralmente muito viajadas.
Visito Romo, uma península situada a sul, unicamente ligada por estrada. A praia tem três kms de areia até à água, parece um deserto. Existem carros e caravanas que circulam nesta área e e vejo bastantes pequenos carros com vela para divertimento. É um local bastante procurado por alemães principalmente.
Syvean, normalmente acampa em parques de campismo, e algumas vezes na floresta, nunca ficou em casa de alguém, mas agora está comigo, e eu atraio pessoas que me convidam… e neste primeiro dia que circulávamos juntos na Dinamarca, fomos convidados a tomar um banho quente e ficámos no jardim de um casal. Nos dias seguintes ficámos em Shelters. Como na Dinamarca não se pode acampar em qualquer local (eu fi-lo em todos os países, mesmo na Dinamarca), existem os Shelters para poder pernoitar. Podem ser Bunkers construídos pelos alemães durante a guerra, ou podem ser casas de madeira no meio da floresta. Na floresta podemos encontrar estes Shelters numa área que está organizada para o efeito, pois podem ou não ter torneira com água, casa de banho, mesas e bancos. Num deles havia um atrelado antigo e no seu interior uma mesa e bancos compridos e uma salamandra. Têm também área para fazer fogueira e lenha cortada para utilizar em alguns deles. Poder ficar nestes Shelters na floresta foi sem dúvida um dos momentos altos da viagem, são locais muito fixes.
Nestes países do norte podemos apanhar calor, chuva e frio, é imprevisível, e claro também apanhei chuva e frio.
Já no norte da Dinamarca encontramos um dinamarquês bastante viajado que refere que a costa oeste da Noruega é um dos locais mais bonitos do mundo, elegida pela National Geographic e pela Unesco. Inicialmente estava previsto passar pela Suécia, mas devido a esta importante opinião dirijo-me para a Noruega e separo-me de Sylvean.
Apanho o barco em Hirtsalds no norte da Dinamarca para Larvik na Noruega (13-05-2011).
Neste momento estou com 4593 Kms, e espera-me muita montanha na Noruega. 

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Estou com 4593 Kms e apanho o barco em Hirtshals no norte da Dinamarca para Larvik na Noruega

Shelter na Dinamarca (abrigos para dormir)


A viajem tem corrido bem, mas aqui no norte o tempo é mt instável, calor, chuva, frio etc. Percorri a parte oeste da Alemanha, toda a costa Oeste da Dinamarca e agora encontro-me perto de Larvik na Noruega. Vou para sul e depois para o famoso cabo, no norte, penso que é o Northcap, qualquer coisa assim. Muita montanha me espera...
Um grande abraço

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Alemanha

Resolvo dirigir-me para a Alemanha, e percorro a zona a oeste. Vejo poços de petróleo que parecem funcionar sem trabalhadores, muitas ventoinhas, casas repletas de painéis solares. Sim, a Alemanha tem uma enorme tecnologia no que respeita à exploração de energia, nomeadamente de energia limpa. Vejo os pavilhões muito compridos das quintas com o telhado completamente coberto de painéis solares.
É como nos filmes… as casas, as quintas, o ambiente que se vive. Parece um pouco austero, alemão claro, mas bonito.
Numa pequena cidade, peço água a um rapaz e a um homem que estavam juntos, e pergunto por uma floresta ou local sossegado para acampar, o rapaz leva-me até ao canal, depois o aro da frente, o mesmo que veio com a bicicleta, encomendou a a lama ao criador… 11 anos a travar e gastou-se, abriu uma fissura e cedeu. Daí a razão de um dos calços estar constantemente a desafinar, e depois travar aos soluços. O homem que estava com o rapaz é mecânico de bicicletas e ofereceu-me um aro usado, mas em bom estado.
Quero comprar leite numa quinta, trazem-me um prato de sopa e depois oferecem-me 3.5L leite.  
Atravesso três rios em Ferry Boats…acampo nas florestas e em quintas.
Esta zona é tipicamente mais rural, como eu gosto. Num dos dias, pergunto ao dono de uma pequena quinta para montar a tenda, diz-me que sim e depois convida-me para conversar no celeiro com os amigos. É um momento entusiasmante, um celeiro com palha, ovelhas com filhotes, patos e patinhos bem pequeninos, pássaros a voarem dentro do celeiro, e os alemães caçaram dois veados. A mulher que lá se encontra sabe das dificuldades que Portugal atravessa e pergunta-me a todo o momento sobre os impostos que os portugueses pagam.  Lá fora está muito frio! Estou no norte da Alemanha perto de Husum, quase na Dinamarca.
Como vou para a Dinamarca, compro muita, muita comida no Aldi, na Alemanha é mais barato comprar comida que na Dinamarca. Não a organizo bem nos alforges, alguma vai colocada na mochila e num saco de plástico, em cima. Tenho um centro de gravidade elevado e por isso a bicicleta não está estável, despisto-me algumas vezes, estou aterradoramente pesado. No dia seguinte coloco as coisas mais pesadas em baixo nos alforges, e máquina parece outra, mesmo pesada, tem um comportamento muito melhor.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Holanda

Entro na Holanda  por um caminho no meio da floresta, depois chego à estrada e o caminho desvia-se um pouco, e resolvo ir pela estrada. Passa um camião e apita, penso que me cumprimentou, depois passa outro carro e volta a apitar com toda a intensidade… percebo imediatamente que não devia andar ali. Na Holanda as bicicletas têm caminhos específicos, e não podem andar na estrada, salvo raras excepções no interior de pequenas vilas. Existem estradas para bicicletas que ligam todas as povoações, existe sinalização especifica indicando a prioridade das bicicletas, direcções, as passagens de nível têm 3 cancelas (uma para os carros e mais duas para cada ciclovia em cada lado da estrada, semáforos para ciclistas. Penso que quase todos se deslocam de bicicleta, mesmo com roupa a rigor.
Vejo caminhantes e ciclistas que cruzam as florestas para se deslocarem ou fazendo desporto.
As cidades são arrumadas, limpas, têm um aspecto dinâmico e criativo… mas para sair das cidades é mais complicado para mim, pois a sinalização indica na generalidade a povoação seguinte mais próxima e não tenho mapa tão detalhado. Andar nas ciclovias e passeios que são feitos para peões e bicicletas. Também não é tão rápido como andar na estrada e o piso também não têm a qualidade de uma estrada, já para não falar que tenho que cruzar a estrada algumas vezes para o outro lado.
No primeiro dia na Holanda, chego a Hertogenbosch, e sou convidado para dormir em sua casa, ele também gosta de viajar de bicicleta. Sou recebido pela sua família, numa moradia nos arredores da cidade, uma zona calma. 3 ou 4 filhos não sei precisar de momento, já lá vai algum tempo… um deles é Dj e está a colocar música, prepara-se para a festa que vai participar. Oferecem-me o jantar e de seguida ausentam-se todos de casa e eu fico a cortar o cabelo, fazer barba, tomar banho, máxima confiança… a filha de 16 anos pede a mãe para me comprar um biscoitos, deliciosos… e fiquei comovido pela lembrança.
Parto de novo, e está um vento fortíssimo, vou por um caminho que passa por cima de um dique, maravilhoso, vejo as quintas, os barcos no canal. O canal é relativamente estreito e vejo 3 barcos a passarem lado a lado, um ultrapassa o outro e passa outro barco em sentido contrário. Pergunto-me como é que barcos tão grandes conseguem faze-lo num canal estreito.
Bom, estou a chegar ao final do dia e só encontro quintas com vedações, casas com vedações… não vejo floresta para acampar, começo a ficar farto do mesmo padrão. Olho para o mapa e vejo uma estrada com interesse (acompanhada de traço verde). Paro num semáforo e pergunto a um ciclista sobre esta estrada, ele diz-me que poderei ir por uma que passa pelo interior de uma floresta, e diz-me que ainda hoje regressará por ela mas primeiro tem que ir trabalhar, diz-me que é padre. Vou perguntando a algumas pessoas, e como é óbvio, nem todas sabem, acabo por encontrar uma que indica correctamente o caminho. Sinto-me aliviado, parecia que toda a área da Holanda era completamente preenchida por pessoas.
É uma floresta grande, tem caminhos lindos, apenas para pessoas, cavalos, ou bicicletas. Encontro também dunas de areia, maravilhoso… centenas de pessoas passeiam-se por entre estes caminhos correctamente sinalizados, algumas quintas, algumas com café e esplanada.
No dia seguinte voltei a entrar em outra floresta… falo com um ciclista nas proximidades, e ele diz-me que nesta floresta existem ao que eles chamam na Holanda “pequenas montanhas”. As montanhas não existem, apenas muito pequenos desníveis, mas a Holanda é bastante plana e daí este apelido para os pequenos desníveis.

domingo, 1 de maio de 2011

Com 3200 km de viagem, o Nelson atravessa a Holanda

A abertura do blog, mais de 1 mês após o início da volta à Europa, deve-se à dificuldade do nosso companheiro ter acesso à internet e, principalmente, porque não tem muito tempo para as actividades informáticas.
Sempre que lhe for possível irá enviando as novidades que serão aqui publicadas directa ou indirectamente.
Abraço companheiro

Bélgica

Entrei na Bélgica, e já estou de saída, é um país pequeno… mas entretanto vou à biblioteca para ir à internet, e quando ia buscar o meu pc, sou convidado por um casal (ela Belga, ele marroquino a viver desde os 2 anos na Bélgica) para ir a casa deles, outra pequena mansão com um belo jardim e animais. A contrastar com a tenda, mais rústico e “hard”. Hoje (27-04-2011) vou jantar aqui e também dormir. São pessoas fantásticas, abertas e tenho aprendido imenso sobre a Bélgica e Marrocos.
Ontem também aqui na Bélgica, encontrei um casal Belga que estão a viajar de bicicleta na Bélgica, e emprestaram-me um mapa com caminhos verdes para bicicletas e pessoas. São caminhos mais rurais mas que passam também pelas grandes cidades. O belga tem uma Surly que pode transportar muito peso, a bicicleta é mais comprida e muito resistente, pode transportar no total 180kg de peso, tem um segundo guiador(que não gira) e uma base no suporte traseiro para uma segunda pessoa poder ir sentada.
Mais uma vez, comprei 2L leite numa quinta por 1€, bebi-o todo no lanche.
As ruas aqui na Bélgica estão repletas de bicicletas, e até os prédios têm no seu interior quando se entra, suportes para bicicletas. É muito giro ver tantas bicicletas, e ver os jovens ir de bicicleta para a escola, penso na quantidade de anos que eu ia para a escola de autocarro, e era tão perto.
Quanto ao país em geral, gostei mais de Espanha e França. Fiquei a saber também que existe grandes diferenças de mentalidade dentro da pequena Bélgica e que não têm governo desde há mais de 300 dias devido às diferenças culturais que existe entre eles.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

França


Um dos pressupostos mais complicados é a dormida, mas também na França não tive problemas. Dormi na floresta acima de Mimizan , no jardim de casas, em camas de pessoas que me convidam a entrar, couchsurfing (1x), junto a igrejas, no campo.
Na floresta, numa das vezes, literalmente atacado por pequeníssimos mosquitos, tanto ao anoitecer como de manhã. Valeu-me o facto de a malha da rede da tenda ser ainda mais pequena que os pequenos mosquitos e por isso ter uma noite descansada. De manhã ao sair da tenda, tive que arrumar as coisas à pressa, inclusivamente com a tenda molhada, coisas que não se deve fazer por causa dos fungos que danifica o tecido. Parti para a vila mais próxima, onde tomei o pequeno almoço num pequeno jardim e cozinhei uns douradinhos que comprei no dia anterior. Estava com algum receio quanto ao cozinhar no pequeno jardim, a descoberto, no centro da vila e junto à estrada. Receei que os franceses me recriminassem por isso, mas não! Eles sorriam, diziam “bon jour, bon apetit”, e uma senhora que estacionou o carro com a filha que ia trabalhar no cabeleireiro em frente, sorriu e meteu conversa comigo.
Da minha experiência só posso dizer muito bem dos franceses e da França.
Talvez eu venha carregado da mentalidade portuguesa, em que se recrimina mais as coisas, em que não se pode fazer isto, não se pode fazer aquilo, não digas isto, não digas aquilo. Penso algumas vezes que as pessoas me vão dizer que não devia estar ali a cozinhar, ou a dormir na porta da igreja, ou qualquer outra coisa, mas não, cumprimentam-me, sorriem, como se me conhecessem. Quando me vêm a passar, muitos metem conversa comigo, voltam a sorrir e dizem “bom courage, bom chance” (não sei se é assim que se escreve, espero que sim).
A França é na generalidade muito plana, pelo menos por onde passei.
Bordeus utilizei pela primeira vez o couchsurfig.
Encontrei uma jovem escocesa no sul de França, partiu da Escócia de bicicleta e ia visitar a irmã em Sevilha. Parámos, conversámos como se nos conhece-mos e despedimo-nos.
Poucos dias depois encontro um casal canadiano com mais de 60 anos, viajam à boleia em França. Converso com eles, são pessoas educadas e interessantes. Dizem-me que já viajaram de mota na América central e do sul.
Qual o casal português que viajaria à boleia? Será que estou errado, e que eu próprio sou pré-conceituoso… penso que estou a substituir o “pré” por “novos-cnceitos”.
Bom, a França é um país lindo, muito lindo! As casas são praticamente todas construídas e decoradas de acordo com a tradição de cada região. É uma coisa que não acontece em Portugal, onde a variedade da fisionomia e aspecto das casas é super variada.
Além das casas, os passeios, as estradas que têm muitos kilómetros de área reservada aos ciclistas, os jardins, as quintas, o “glamour”, os muitos carros antigos … estou encantado, poderia viver na França com toda a certeza. As quintas são locais de muito trabalho, mas não descoram o excelente aspecto, com construções lindíssimas que respeitam o passado, e têm jardins lindos. Existem muitas estradas com uma área à direita da faixa de rodagem, reservada aos ciclistas. Na floresta existem milhares de kilómetros de caminhos, alcatroados ou não, com sinalização apropriada.
Diariamente, as pessoas utilizam a bicicleta como um transporte. Novos, velhos, senhoras, homens… é bastante cool observar como o fazem naturalmente, dá-lhes estilo. As bicicletas têm quase todas suporte traseiro e algumas dianteiro, têm alforges para transportar as compras, cesto à frente… que “glamour”.
Além destes aspectos descrevo a França como um país com uma agricultura muito forte, pelos campos muito bem cultivados e pelas poderosa máquinas agrícolas, exploração de florestas e corte de árvores (muita floresta), produção de leite e carne bovina, pois encontrei vacas por todo o país. Compro algumas vezes leite nas explorações, ente 0.50€ e 1€ por 1.5L de leite puro.
Maravilhosa a França… no entanto existem 2 aspectos que necessitam ser revistos. Tenho muita dificuldade em encontrar água na rua ou jardins e muitas estações de serviço também não têm água. Por vezes peço águas às pessoas das casas, e por 2 vezes me deram garrafas de água novas.
Outro aspecto é que também tenho dificuldade(!) em encontrar ecopontos.
Numa tarde resolvo descansar um pouco no centro da vila, e uma senhora mete conversa comigo, é francesa mas fala inglês, o que é raro. Falamos um pouco, e refere-me que além de historiadora, licenciou-se em direito à uns anos, para poder ajudar o meio ambiente. Confirma-me que em França, este aspecto está muito atrasado.
Tenho vivido momentos mágicos diariamente, com momentos fantásticos de prazer pelo que estou a fazer, em cada momento estou num local diferente, as pessoas têm-me surpreendido pela positiva.
Outro aspecto interessante, é que os franceses são mais regrados na estrada, e como são utilizadores generalizados da bicicleta, ao ultrapassarem-me, fazem-no deixando uma gigantesca distância entre mim e eles.
Em Bordeus, fico numa casa centenária de uma couchsurfer, que partilha a casa com mais alguns jovens.
No sul de França… o sol está-se a pôr, necessito de água para banho e outras actividades, já vi que poderei acampar junto na igreja que está rodeada pelo cemitério, na “petit village”. Entro no jardim de uma casa tipicamente francesa, uma casa maravilhosa, para pedir água. Uma senhora com mais de 60 anos, dona da casa atende-me e diz-me que tomarei banho quente na casa dela e poderei dormir no jardim. Sou recebido depois pelo seu marido, filha e genro(nos seus 40 anos), 2 netos e 2 netas. As crianças ficam encantadas… ajudam-me a montar a tenda no imenso jardim, explico-lhes sobre as coisas que trago comigo, eles ficam encantados. Entro na casa centenária, de pedra… não sei como explicar, a casa é tão encantadora por dentro como por fora, tem coisas muito antigas, a dona da casa pintou as paredes com árvores, pássaros etc… tomo um banho quente, e de seguida tomo um chá com biscoitos na sala, serenamente sentados conversando. As 4 pessoas falam inglês, vivem na região de Paris e aquela é uma casa de campo. Referiram-me que podia passar pela casa deles no norte…mas passo a 100 kms à esquerda de Paris.
Antes de entrar em Le Mans, verifico a pressão dos pneus (máxima, para peso máximo), até parece que o fiz de propósito, mas não. Quando dou por mim, estou em pleno circuito. As curvas têm aquelas delimitações coloridas e recortadas, 4 rails de protecção de altura, entre outro tipo de acessórios e informação. O mítico circuito de Le Mans, estende-se às estradas limítrofes ao circuito privado.
Passo por Rechelieu, maravilhoso. (“passo a noite com o Dartacão e os 3 mosquteiros, no dia seguinte, o cardeal Richeliou quis saber quem eu era…” – Estou a brincar. Uma vila pequena e encantadora também.
…mais uns dias, vou na estrada principal, é fim de dia, começo a varrer com o meu olhar, se encontro alguma igreja nas “petit vilages” ao lado das estradas pirincipais. Os telhados das igrejas são ponteagudos, muito altos, e por isso fáceis de encontrar. 1km para a direira e estou numa “petit villgage” que mais parece ter sido tirada do paraíso, linda, típica. Uma pequena igreja com alpendre rodeada pelo cemitério. Uma senhora estaciona o Suzuki Vitara, próximo da igreja dirijo-me a ela, para lhe dizer que vou passar ali a noite. Ela não mora ali, vem visitar a campa do filho, morreu há 2 meses num acidente de automóvel, com 26 anos. Ouço a história dela…já descalço (preparava-me para o meu banho) ouço a sua história em meio francês e inglês. Acompanho-a à campa. Audrey, nora (não casaram mas viviam juntos à 4 anos) tem 25 anos, acaba de chegar num Land Cruizer, convida-me para tomar banho em sua casa e depois para lá dormir. Tem 2 cães enormes, cavalos, é monitora de aprendizagem de andar a cavalo, não fala inglês.
Oferece-me o jantar enquanto vemos televisão na sala…falamos, também por gestos para ajudar à compreensão, rimo-nos. Uma pessoa encantadora, embora bastante triste por ter morrido o seu companheiro.
Noutro dia fiquei em casa de uma família cujo senhor é da Ilha da Reunião, junto a Madagascar. Partiu para a França aos 16 anos, vive em França há 50 anos e vai vender a sua casa, carro e 2 pequenos barcos e regressar com a mulher (francesa) à Ilha da Reunião, um pequeno paraíso.
Quero referir um aspecto… quando vou às compras, entro com a bicicleta para dentro do supermercado. No Lidl, entro pela porta de saída quando as pessoas vão sair, e falo com a senhora da caixa, nunca me disseram que não, e grande parte delas sorriam simpaticamente dizendo que sim.
Ainda não coloquei informação no blog, não tenho tido internet, pois também não é muito fácil encontrar net em espaços públicos, e confesso que destas coisas da informática, levo algum tempo a absorver conhecimento.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Espanha

… alpendre de Igreja após Pontevedra…
E em Santiago converso com uns italianos que me desaconcelham a visitar o sul de Itália, devido aos imensos ladrões que por lá andam, apenas até ao centro.
Deixo Santiago para trás, chove, abasteço-me com 8litros de água numa bomba de gasolina(são para o banho e para beber, para a papa láctea). Sim, um ex-depósito de liquido refrigerante faz parte do meu equipamento para transporte de água, alojo-o entre o espigão do selim e a rack traseira. Pelas 20.30h está anoitecer, estou cansado e depois de algumas tentativas meios envergonhadas sobre onde posso encontrar um local seguro para pernoitar, pergunto de forma directa e entusiasta a um casal de uma moradia se posso ficar debaixo do alpendre. Fico na garagem a dormir no sofá.
Novamente chuva, e mais chuva, mas tenho um casaco e umas luvas impermeáveis e de aquecimento que fazem toda a diferença. Com chuva custa começar, mas depois aquecemos e com o equipamento referido, há muito conforto. Quanto às calças impermeáveis têm alguns contras, são muito largas em baixo e tocam na roda pedaleira e é preciso atar um atacador ou um elástico. Atrapalham mais na pedalada. Portanto, apenas com umas calças de lycra de aquecimento, mesmo com chuva, não se tem frio, pelo menos na ausência de muito frio.
Visito a Corunha, muito fixe de se visitar. Novamente uma ciclovia junto ao mar, praças lindas. Engraçado que os espanhóis têm lindas praças, que são óptimos locais de encontro de pessoas e são locais muito aprazíveis para se estar. Pedalo até Miño, fiquei num albergue, paguei 5€, porque fui informado por uns locais que o custo seria apenas de 1 ou 2 €. O albergue está fechado, não tem lá ninguém, mas o espanhol que me acompanha de carro para me indicar o local telefona para o número indicado à entrada, vem a protecção civil, são 5€ para dormir num local encantador, à frente de um rio, umas instalações lindas de mais, construída em pedra e madeira, maravilhoso!!! Cozinho grãos, massa letria doce e passo uma noite no céu.
De manhã, lubrifico a corrente, parto para um novo dia, e numa descida e sem esforço faço questão de passar a corrente lubrificada por todos os carretos… “tá tá tá tá tá…” , a corrente saiu para o lado dos raios, partiu 8 e danificou todos os outros. Fico aborrecido com o acontecimento, mas viajo com uma convicção tão grande, e com tanto prazer que tudo o que me acontece, é-me brindado com novos episódios e experiências super enriquecedoras. Falo com algumas pessoas, depois com o porteiro de uma escola sobre a existência de um “taller” de “bicis” mais próximo. Entretanto ia a sair uma linda Volvo Station, é Mickeê (escrevo como se diz)… o director da escola faz triatlo, e está na África do Sul numa prova, este é o director que o substitui na sua ausência… tem 2 argolas de ouro numa orelha, é professor de educação física e faz parte da tripulação de um veleiro patrocinado pela Telefónica (informações do porteiro). Entretanto, já o porteiro tinha comunicado com a guarda civil, que compareceu mas que diz não poder levar-me até ao mecânico mais próximo. A bicicleta com mais de 60kg de peso incluindo carga não podia andar. A protecção civil chama a policia local, entretanto “Mickeê” que se tinha ido embora regressa, e mostra-me uma roda traseira completa, com disco. E parece que fiz mover muita gente: Estava lá a guarda civil, protecção civil, e Mickeê com a roda.
Vou até ao “taller” recomendado e previamente contactado por “Mickeê”, 12 kms com muita(!) subida, a minha roda danificada, viaja em cima das malas traseiras, e se a minha bicicleta já era objecto da atenção dos transeuntes, agora com uma roda suplente ainda mais. Deveria lá reparar a roda e deixar a roda emprestada, “Mickeê” iria lá buscar a roda depois.
Vou até Pondedeume, um “Pueblo” situado numa foz de rio, lindo, típico pueblo à beira foz plantado. O “taller”(mecânico) trabalha para a loja onde me dirigi, mas hoje não vem, está a reparar um barco. A loja vendia barcos, canoas, material para actividade marítima, bicicletas, muito engraçada. Parto então para Ferrol, e comunico ao mecânico que no dia seguinte regressaria com a roda, mas “Mikeê" entretanto comunica com a loja em Ferrol e diz que vai lá buscar a roda depois (a 30kms de distância). Pessoas com muita experiência de vida e abertas, são mais à frente!!!!!
Pago 23.10€ pela substituição de todos os raios de um lado da roda traseira, é aceitável. La Roca, é o nome da loja que é tão conhecida na região. Tem vários mecânicos a trabalhar, e uma montanha de bicicletas, sim uma montanha, porque estavam todas encavalitadas, fazendo um monte, são bicicletas que já estavam reparadas, nem sei como poderiam aceder a uma bicicleta que estivesse lá no meio.
Parto de Ferrol, já bem tarde, sigo pela estrada mais acima, (AC 116), quando me desvio para a pequena aldeia de Átios, situada à beira da estrada, vou à procura da igreja para pernoitar. Falo com um espanhol mais ou menos da minha idade, jogava à bola com os filhos… diz-me que o local é seguro, entretanto a tia convida-me a entrar e a ficar numa sala. A tia Célia tem mais de 70 anos, mesmo assim convidou-me a entrar. Tomo um banho com a água do meu garrafão, junto no pátio de cimento, ao lado um galinheiro. Uma aldeia com poucas casas mas muito bonita. Célia vive com o irmão Salvador, que entretanto chega, leva-me uma lata de conserva bastante grande, recuso… volta de novo, traz-me pão, volto a recusar e agradeço-lhe dizendo-lhe que não quero causar gastos para eles. Peço-lhes unicamente uma folha de de alface para cozinhar com os grãos.
De manhã, o irmão de Célia convida-me para o pequeno almoço, aceito. Depois pergunto-lhes por leite de vaca puro… avizinha ao lado tem uma vaca e oferece-me 1.5L. Que Deus os abençoe.
Visito Cedeira, bem lá em cima na Galiza. Um “pueblo” lindo situado numa reentrância de mar, é altura de ir beber o leite de vaca puro com bolachas. Como viajo sozinho, tenho ne cessidade de comunicar, começo a falar com Juan, está a pescar… o dia está quente, está sol. Sento-me na muralha e converso com ele. Juan tem 38 anos, ex-militar, empresário da indústria das madeiras, encontra-se em tronco nú a pescar naquele pequeno paraíso. Está sentado numa cadeira de rodas, teve um acidente de trabalho. Temos uma conversa simples mas animada, falamos da vida, sempre que pesca um peixe volta a devolve-lo ao mar, diz que não tem dimensão suficiente. E vai-se embora apenas com um peixe.
Ortigueira, outra reentrância de mar, outro paraíso! Depois fico pela primeira vez na minha tenda, num pinhal na foz de um rio, noutro paraíso! Faço uma fogueira, onde aqueço grãos previamente cozinhados por mim no dia anterior, e cozinho massa letria. É engraçado cozinhar na fogueira.
Os espanhóis preservam na generalidade muito bem a arquitectura antiga das casas, e por isso tanto os “pueblos” como as cidades estão na generalidade bastante típicas.
Após Luarca, num pequeno “pueblo” chamado Valdes, fui mandado parar por uma senhora, que era a dinamizadora dos amigos do Caminho de San Tiago. Como o albergue estava em obras fiquei numa casa de cultura, muito antiga e que foi remodelada. Uma verdadeira casa rural. Covadonga, filha da senhora que me mandou parar, mostro-me a casa amavelmente e conversamos durante algum tempo.
Cometi duas vezes o mesmo erro, chegar à tardinha a uma grande cidade. Onde se fica numa grande cidade? Num albergue com certeza, mas 5€ por cada noite muitas vezes é dinheiro.
Em Gijón, fiquei num campo onde pastavam as ovelhas da parte de cima da cidade, e fiquei com uma vista fantástica sobre a cidade toda iluminada. Combinei com o senhor que estava a cortar erva para as ovelhas, onde colocaria a chave do cadeado do portão.
Num destes dias, parti tarde, fui à internet, e por isso quis fazer mais kms. Já era noite e ainda eu circulva na estrada nacional, e ainda por cima estava e obras. Resultado, após falar com uns locais subi 2kms com um declive muito acentuado até um parque de merendas. A relva e a casa referida que tinha um alpendre era visível a quem passava na estrada, e só me restou dormir ao lado de uma casa que parecia ter a ver com as águas, pois olhando para o seu interior tinha umas escadas até ao rio. De manhã, ouvi uma sintonia de pássaros, vi 2 esquilos enormes a passear pelas árvores. Estava ao lado de um parque Nacional dos Picos da Europa.
Passo ao lado de Santander, dizem que é muito bonito, mas gosto mais do campo, da montanha.
Ao chegar muito próximo de Bilbau(a 10kms, e os prédios já começaram a aparecer a alguns kms) à tardinha, cometi novamente o mesmo erro, mas fui aconselhado por algumas pessoas a ir a uma povoação 2 kms atrás, onde há mais sossego. Começo então a subir monte acima, por um caminho de cabras, e encontro um pastor que me aconselha o terreno do vizinho, fantástico, mais uma noite resolvida. De manhã apressei-me a sair para fora do campo das vacas, elas começaram a descer a encosta.
Os melhores locais para dormir, são na generalidade pequenas povoações ao lado das estradas, na igreja local, e se esta tiver cobertura nem é preciso montar tenda. Se possível, escolher povoações mais afastadas das estradas nacionais muito movimentadas e auto estradas, devido ao ruído.
Tenho encontrado alguns peregrinos, não muitos. Kathrin, uma alemã quarentona que vive em Colónia, deu-me o seu mail, e disse-me que poderia ficar alguns dias em sua casa, pois Colónia era muita bonita.
Cruzei-me com um suíço de mais de 50 anos, com uma verdadeira máquina de touring. Cruzou a estrada e dirigiu-se a mim. Já vinha com 1800kms desde a Suiça, mandou a tenda para casa e agora fica em hostels. Diz que faz todos os dias mais de 100kms, e que deve ser por passar tanto tempo a pedalar que lhe dói o traseiro, e tem um assento Brooks!
Um Belga, que faz o caminho a pé, dorme na tenda sempre, mesmo nas cidades, espera que escureça, e depois monta a tenda em parques mais recatados.
Continuo a mover olhares por onde passo, e aqui em Espanha dizem sempre “mucho peso”. A bicicleta está de facto muito pesada, mas está muito bonita de se ver.
Outro aspecto a ter em conta, é que os produtos de supermercado, são na generalidade caros em qualquer local, principalmente o pão, e onde houver um Lidl, aí há um Oasis para me poder abastecer.
Tive uns desapertos de parafusos das 2 racks, frente e traseira. A da frente reapertei, e não voltou a desapertar. A traseira, como o parafuso saio mesmo da rosca, substitui por parafusos mais compridos e coloquei porca do outro lado, e também não voltaram a desapertar. No entanto, refiro que é sempre necessário observar os diversos elementos mecânicos.
Já combinei dormida em Bordeus, deverá ser a primeira vez que vou utilizar o couchsurfing, em Espanha, ninguém me respondeu.