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sexta-feira, 15 de abril de 2011

Espanha

… alpendre de Igreja após Pontevedra…
E em Santiago converso com uns italianos que me desaconcelham a visitar o sul de Itália, devido aos imensos ladrões que por lá andam, apenas até ao centro.
Deixo Santiago para trás, chove, abasteço-me com 8litros de água numa bomba de gasolina(são para o banho e para beber, para a papa láctea). Sim, um ex-depósito de liquido refrigerante faz parte do meu equipamento para transporte de água, alojo-o entre o espigão do selim e a rack traseira. Pelas 20.30h está anoitecer, estou cansado e depois de algumas tentativas meios envergonhadas sobre onde posso encontrar um local seguro para pernoitar, pergunto de forma directa e entusiasta a um casal de uma moradia se posso ficar debaixo do alpendre. Fico na garagem a dormir no sofá.
Novamente chuva, e mais chuva, mas tenho um casaco e umas luvas impermeáveis e de aquecimento que fazem toda a diferença. Com chuva custa começar, mas depois aquecemos e com o equipamento referido, há muito conforto. Quanto às calças impermeáveis têm alguns contras, são muito largas em baixo e tocam na roda pedaleira e é preciso atar um atacador ou um elástico. Atrapalham mais na pedalada. Portanto, apenas com umas calças de lycra de aquecimento, mesmo com chuva, não se tem frio, pelo menos na ausência de muito frio.
Visito a Corunha, muito fixe de se visitar. Novamente uma ciclovia junto ao mar, praças lindas. Engraçado que os espanhóis têm lindas praças, que são óptimos locais de encontro de pessoas e são locais muito aprazíveis para se estar. Pedalo até Miño, fiquei num albergue, paguei 5€, porque fui informado por uns locais que o custo seria apenas de 1 ou 2 €. O albergue está fechado, não tem lá ninguém, mas o espanhol que me acompanha de carro para me indicar o local telefona para o número indicado à entrada, vem a protecção civil, são 5€ para dormir num local encantador, à frente de um rio, umas instalações lindas de mais, construída em pedra e madeira, maravilhoso!!! Cozinho grãos, massa letria doce e passo uma noite no céu.
De manhã, lubrifico a corrente, parto para um novo dia, e numa descida e sem esforço faço questão de passar a corrente lubrificada por todos os carretos… “tá tá tá tá tá…” , a corrente saiu para o lado dos raios, partiu 8 e danificou todos os outros. Fico aborrecido com o acontecimento, mas viajo com uma convicção tão grande, e com tanto prazer que tudo o que me acontece, é-me brindado com novos episódios e experiências super enriquecedoras. Falo com algumas pessoas, depois com o porteiro de uma escola sobre a existência de um “taller” de “bicis” mais próximo. Entretanto ia a sair uma linda Volvo Station, é Mickeê (escrevo como se diz)… o director da escola faz triatlo, e está na África do Sul numa prova, este é o director que o substitui na sua ausência… tem 2 argolas de ouro numa orelha, é professor de educação física e faz parte da tripulação de um veleiro patrocinado pela Telefónica (informações do porteiro). Entretanto, já o porteiro tinha comunicado com a guarda civil, que compareceu mas que diz não poder levar-me até ao mecânico mais próximo. A bicicleta com mais de 60kg de peso incluindo carga não podia andar. A protecção civil chama a policia local, entretanto “Mickeê” que se tinha ido embora regressa, e mostra-me uma roda traseira completa, com disco. E parece que fiz mover muita gente: Estava lá a guarda civil, protecção civil, e Mickeê com a roda.
Vou até ao “taller” recomendado e previamente contactado por “Mickeê”, 12 kms com muita(!) subida, a minha roda danificada, viaja em cima das malas traseiras, e se a minha bicicleta já era objecto da atenção dos transeuntes, agora com uma roda suplente ainda mais. Deveria lá reparar a roda e deixar a roda emprestada, “Mickeê” iria lá buscar a roda depois.
Vou até Pondedeume, um “Pueblo” situado numa foz de rio, lindo, típico pueblo à beira foz plantado. O “taller”(mecânico) trabalha para a loja onde me dirigi, mas hoje não vem, está a reparar um barco. A loja vendia barcos, canoas, material para actividade marítima, bicicletas, muito engraçada. Parto então para Ferrol, e comunico ao mecânico que no dia seguinte regressaria com a roda, mas “Mikeê" entretanto comunica com a loja em Ferrol e diz que vai lá buscar a roda depois (a 30kms de distância). Pessoas com muita experiência de vida e abertas, são mais à frente!!!!!
Pago 23.10€ pela substituição de todos os raios de um lado da roda traseira, é aceitável. La Roca, é o nome da loja que é tão conhecida na região. Tem vários mecânicos a trabalhar, e uma montanha de bicicletas, sim uma montanha, porque estavam todas encavalitadas, fazendo um monte, são bicicletas que já estavam reparadas, nem sei como poderiam aceder a uma bicicleta que estivesse lá no meio.
Parto de Ferrol, já bem tarde, sigo pela estrada mais acima, (AC 116), quando me desvio para a pequena aldeia de Átios, situada à beira da estrada, vou à procura da igreja para pernoitar. Falo com um espanhol mais ou menos da minha idade, jogava à bola com os filhos… diz-me que o local é seguro, entretanto a tia convida-me a entrar e a ficar numa sala. A tia Célia tem mais de 70 anos, mesmo assim convidou-me a entrar. Tomo um banho com a água do meu garrafão, junto no pátio de cimento, ao lado um galinheiro. Uma aldeia com poucas casas mas muito bonita. Célia vive com o irmão Salvador, que entretanto chega, leva-me uma lata de conserva bastante grande, recuso… volta de novo, traz-me pão, volto a recusar e agradeço-lhe dizendo-lhe que não quero causar gastos para eles. Peço-lhes unicamente uma folha de de alface para cozinhar com os grãos.
De manhã, o irmão de Célia convida-me para o pequeno almoço, aceito. Depois pergunto-lhes por leite de vaca puro… avizinha ao lado tem uma vaca e oferece-me 1.5L. Que Deus os abençoe.
Visito Cedeira, bem lá em cima na Galiza. Um “pueblo” lindo situado numa reentrância de mar, é altura de ir beber o leite de vaca puro com bolachas. Como viajo sozinho, tenho ne cessidade de comunicar, começo a falar com Juan, está a pescar… o dia está quente, está sol. Sento-me na muralha e converso com ele. Juan tem 38 anos, ex-militar, empresário da indústria das madeiras, encontra-se em tronco nú a pescar naquele pequeno paraíso. Está sentado numa cadeira de rodas, teve um acidente de trabalho. Temos uma conversa simples mas animada, falamos da vida, sempre que pesca um peixe volta a devolve-lo ao mar, diz que não tem dimensão suficiente. E vai-se embora apenas com um peixe.
Ortigueira, outra reentrância de mar, outro paraíso! Depois fico pela primeira vez na minha tenda, num pinhal na foz de um rio, noutro paraíso! Faço uma fogueira, onde aqueço grãos previamente cozinhados por mim no dia anterior, e cozinho massa letria. É engraçado cozinhar na fogueira.
Os espanhóis preservam na generalidade muito bem a arquitectura antiga das casas, e por isso tanto os “pueblos” como as cidades estão na generalidade bastante típicas.
Após Luarca, num pequeno “pueblo” chamado Valdes, fui mandado parar por uma senhora, que era a dinamizadora dos amigos do Caminho de San Tiago. Como o albergue estava em obras fiquei numa casa de cultura, muito antiga e que foi remodelada. Uma verdadeira casa rural. Covadonga, filha da senhora que me mandou parar, mostro-me a casa amavelmente e conversamos durante algum tempo.
Cometi duas vezes o mesmo erro, chegar à tardinha a uma grande cidade. Onde se fica numa grande cidade? Num albergue com certeza, mas 5€ por cada noite muitas vezes é dinheiro.
Em Gijón, fiquei num campo onde pastavam as ovelhas da parte de cima da cidade, e fiquei com uma vista fantástica sobre a cidade toda iluminada. Combinei com o senhor que estava a cortar erva para as ovelhas, onde colocaria a chave do cadeado do portão.
Num destes dias, parti tarde, fui à internet, e por isso quis fazer mais kms. Já era noite e ainda eu circulva na estrada nacional, e ainda por cima estava e obras. Resultado, após falar com uns locais subi 2kms com um declive muito acentuado até um parque de merendas. A relva e a casa referida que tinha um alpendre era visível a quem passava na estrada, e só me restou dormir ao lado de uma casa que parecia ter a ver com as águas, pois olhando para o seu interior tinha umas escadas até ao rio. De manhã, ouvi uma sintonia de pássaros, vi 2 esquilos enormes a passear pelas árvores. Estava ao lado de um parque Nacional dos Picos da Europa.
Passo ao lado de Santander, dizem que é muito bonito, mas gosto mais do campo, da montanha.
Ao chegar muito próximo de Bilbau(a 10kms, e os prédios já começaram a aparecer a alguns kms) à tardinha, cometi novamente o mesmo erro, mas fui aconselhado por algumas pessoas a ir a uma povoação 2 kms atrás, onde há mais sossego. Começo então a subir monte acima, por um caminho de cabras, e encontro um pastor que me aconselha o terreno do vizinho, fantástico, mais uma noite resolvida. De manhã apressei-me a sair para fora do campo das vacas, elas começaram a descer a encosta.
Os melhores locais para dormir, são na generalidade pequenas povoações ao lado das estradas, na igreja local, e se esta tiver cobertura nem é preciso montar tenda. Se possível, escolher povoações mais afastadas das estradas nacionais muito movimentadas e auto estradas, devido ao ruído.
Tenho encontrado alguns peregrinos, não muitos. Kathrin, uma alemã quarentona que vive em Colónia, deu-me o seu mail, e disse-me que poderia ficar alguns dias em sua casa, pois Colónia era muita bonita.
Cruzei-me com um suíço de mais de 50 anos, com uma verdadeira máquina de touring. Cruzou a estrada e dirigiu-se a mim. Já vinha com 1800kms desde a Suiça, mandou a tenda para casa e agora fica em hostels. Diz que faz todos os dias mais de 100kms, e que deve ser por passar tanto tempo a pedalar que lhe dói o traseiro, e tem um assento Brooks!
Um Belga, que faz o caminho a pé, dorme na tenda sempre, mesmo nas cidades, espera que escureça, e depois monta a tenda em parques mais recatados.
Continuo a mover olhares por onde passo, e aqui em Espanha dizem sempre “mucho peso”. A bicicleta está de facto muito pesada, mas está muito bonita de se ver.
Outro aspecto a ter em conta, é que os produtos de supermercado, são na generalidade caros em qualquer local, principalmente o pão, e onde houver um Lidl, aí há um Oasis para me poder abastecer.
Tive uns desapertos de parafusos das 2 racks, frente e traseira. A da frente reapertei, e não voltou a desapertar. A traseira, como o parafuso saio mesmo da rosca, substitui por parafusos mais compridos e coloquei porca do outro lado, e também não voltaram a desapertar. No entanto, refiro que é sempre necessário observar os diversos elementos mecânicos.
Já combinei dormida em Bordeus, deverá ser a primeira vez que vou utilizar o couchsurfing, em Espanha, ninguém me respondeu.

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