Um dos pressupostos mais complicados é a dormida, mas também na França não tive problemas. Dormi na floresta acima de Mimizan , no jardim de casas, em camas de pessoas que me convidam a entrar, couchsurfing (1x), junto a igrejas, no campo.
Na floresta, numa das vezes, literalmente atacado por pequeníssimos mosquitos, tanto ao anoitecer como de manhã. Valeu-me o facto de a malha da rede da tenda ser ainda mais pequena que os pequenos mosquitos e por isso ter uma noite descansada. De manhã ao sair da tenda, tive que arrumar as coisas à pressa, inclusivamente com a tenda molhada, coisas que não se deve fazer por causa dos fungos que danifica o tecido. Parti para a vila mais próxima, onde tomei o pequeno almoço num pequeno jardim e cozinhei uns douradinhos que comprei no dia anterior. Estava com algum receio quanto ao cozinhar no pequeno jardim, a descoberto, no centro da vila e junto à estrada. Receei que os franceses me recriminassem por isso, mas não! Eles sorriam, diziam “bon jour, bon apetit”, e uma senhora que estacionou o carro com a filha que ia trabalhar no cabeleireiro em frente, sorriu e meteu conversa comigo.
Da minha experiência só posso dizer muito bem dos franceses e da França.
Talvez eu venha carregado da mentalidade portuguesa, em que se recrimina mais as coisas, em que não se pode fazer isto, não se pode fazer aquilo, não digas isto, não digas aquilo. Penso algumas vezes que as pessoas me vão dizer que não devia estar ali a cozinhar, ou a dormir na porta da igreja, ou qualquer outra coisa, mas não, cumprimentam-me, sorriem, como se me conhecessem. Quando me vêm a passar, muitos metem conversa comigo, voltam a sorrir e dizem “bom courage, bom chance” (não sei se é assim que se escreve, espero que sim).
Bordeus utilizei pela primeira vez o couchsurfig.
Encontrei uma jovem escocesa no sul de França, partiu da Escócia de bicicleta e ia visitar a irmã em Sevilha. Parámos, conversámos como se nos conhece-mos e despedimo-nos.
Poucos dias depois encontro um casal canadiano com mais de 60 anos, viajam à boleia em França. Converso com eles, são pessoas educadas e interessantes. Dizem-me que já viajaram de mota na América central e do sul.
Qual o casal português que viajaria à boleia? Será que estou errado, e que eu próprio sou pré-conceituoso… penso que estou a substituir o “pré” por “novos-cnceitos”.
Bom, a França é um país lindo, muito lindo! As casas são praticamente todas construídas e decoradas de acordo com a tradição de cada região. É uma coisa que não acontece em Portugal, onde a variedade da fisionomia e aspecto das casas é super variada.
Além das casas, os passeios, as estradas que têm muitos kilómetros de área reservada aos ciclistas, os jardins, as quintas, o “glamour”, os muitos carros antigos … estou encantado, poderia viver na França com toda a certeza. As quintas são locais de muito trabalho, mas não descoram o excelente aspecto, com construções lindíssimas que respeitam o passado, e têm jardins lindos. Existem muitas estradas com uma área à direita da faixa de rodagem, reservada aos ciclistas. Na floresta existem milhares de kilómetros de caminhos, alcatroados ou não, com sinalização apropriada.
Diariamente, as pessoas utilizam a bicicleta como um transporte. Novos, velhos, senhoras, homens… é bastante cool observar como o fazem naturalmente, dá-lhes estilo. As bicicletas têm quase todas suporte traseiro e algumas dianteiro, têm alforges para transportar as compras, cesto à frente… que “glamour”.
Além destes aspectos descrevo a França como um país com uma agricultura muito forte, pelos campos muito bem cultivados e pelas poderosa máquinas agrícolas, exploração de florestas e corte de árvores (muita floresta), produção de leite e carne bovina, pois encontrei vacas por todo o país. Compro algumas vezes leite nas explorações, ente 0.50€ e 1€ por 1.5L de leite puro.
Maravilhosa a França… no entanto existem 2 aspectos que necessitam ser revistos. Tenho muita dificuldade em encontrar água na rua ou jardins e muitas estações de serviço também não têm água. Por vezes peço águas às pessoas das casas, e por 2 vezes me deram garrafas de água novas.
Numa tarde resolvo descansar um pouco no centro da vila, e uma senhora mete conversa comigo, é francesa mas fala inglês, o que é raro. Falamos um pouco, e refere-me que além de historiadora, licenciou-se em direito à uns anos, para poder ajudar o meio ambiente. Confirma-me que em França, este aspecto está muito atrasado.
Tenho vivido momentos mágicos diariamente, com momentos fantásticos de prazer pelo que estou a fazer, em cada momento estou num local diferente, as pessoas têm-me surpreendido pela positiva.
Outro aspecto interessante, é que os franceses são mais regrados na estrada, e como são utilizadores generalizados da bicicleta, ao ultrapassarem-me, fazem-no deixando uma gigantesca distância entre mim e eles.
Em Bordeus, fico numa casa centenária de uma couchsurfer, que partilha a casa com mais alguns jovens.
No sul de França… o sol está-se a pôr, necessito de água para banho e outras actividades, já vi que poderei acampar junto na igreja que está rodeada pelo cemitério, na “petit village”. Entro no jardim de uma casa tipicamente francesa, uma casa maravilhosa, para pedir água. Uma senhora com mais de 60 anos, dona da casa atende-me e diz-me que tomarei banho quente na casa dela e poderei dormir no jardim. Sou recebido depois pelo seu marido, filha e genro(nos seus 40 anos), 2 netos e 2 netas. As crianças ficam encantadas… ajudam-me a montar a tenda no imenso jardim, explico-lhes sobre as coisas que trago comigo, eles ficam encantados. Entro na casa centenária, de pedra… não sei como explicar, a casa é tão encantadora por dentro como por fora, tem coisas muito antigas, a dona da casa pintou as paredes com árvores, pássaros etc… tomo um banho quente, e de seguida tomo um chá com biscoitos na sala, serenamente sentados conversando. As 4 pessoas falam inglês, vivem na região de Paris e aquela é uma casa de campo. Referiram-me que podia passar pela casa deles no norte…mas passo a 100 kms à esquerda de Paris.
Antes de entrar em Le Mans, verifico a pressão dos pneus (máxima, para peso máximo), até parece que o fiz de propósito, mas não. Quando dou por mim, estou em pleno circuito. As curvas têm aquelas delimitações coloridas e recortadas, 4 rails de protecção de altura, entre outro tipo de acessórios e informação. O mítico circuito de Le Mans, estende-se às estradas limítrofes ao circuito privado.
Passo por Rechelieu, maravilhoso. (“passo a noite com o Dartacão e os 3 mosquteiros, no dia seguinte, o cardeal Richeliou quis saber quem eu era…” – Estou a brincar. Uma vila pequena e encantadora também.
…mais uns dias, vou na estrada principal, é fim de dia, começo a varrer com o meu olhar, se encontro alguma igreja nas “petit vilages” ao lado das estradas pirincipais. Os telhados das igrejas são ponteagudos, muito altos, e por isso fáceis de encontrar. 1km para a direira e estou numa “petit villgage” que mais parece ter sido tirada do paraíso, linda, típica. Uma pequena igreja com alpendre rodeada pelo cemitério. Uma senhora estaciona o Suzuki Vitara, próximo da igreja dirijo-me a ela, para lhe dizer que vou passar ali a noite. Ela não mora ali, vem visitar a campa do filho, morreu há 2 meses num acidente de automóvel, com 26 anos. Ouço a história dela…já descalço (preparava-me para o meu banho) ouço a sua história em meio francês e inglês. Acompanho-a à campa. Audrey, nora (não casaram mas viviam juntos à 4 anos) tem 25 anos, acaba de chegar num Land Cruizer, convida-me para tomar banho em sua casa e depois para lá dormir. Tem 2 cães enormes, cavalos, é monitora de aprendizagem de andar a cavalo, não fala inglês.
Oferece-me o jantar enquanto vemos televisão na sala…falamos, também por gestos para ajudar à compreensão, rimo-nos. Uma pessoa encantadora, embora bastante triste por ter morrido o seu companheiro.
Noutro dia fiquei em casa de uma família cujo senhor é da Ilha da Reunião, junto a Madagascar. Partiu para a França aos 16 anos, vive em França há 50 anos e vai vender a sua casa, carro e 2 pequenos barcos e regressar com a mulher (francesa) à Ilha da Reunião, um pequeno paraíso.
Quero referir um aspecto… quando vou às compras, entro com a bicicleta para dentro do supermercado. No Lidl, entro pela porta de saída quando as pessoas vão sair, e falo com a senhora da caixa, nunca me disseram que não, e grande parte delas sorriam simpaticamente dizendo que sim.
Ainda não coloquei informação no blog, não tenho tido internet, pois também não é muito fácil encontrar net em espaços públicos, e confesso que destas coisas da informática, levo algum tempo a absorver conhecimento.
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