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segunda-feira, 25 de abril de 2011

França


Um dos pressupostos mais complicados é a dormida, mas também na França não tive problemas. Dormi na floresta acima de Mimizan , no jardim de casas, em camas de pessoas que me convidam a entrar, couchsurfing (1x), junto a igrejas, no campo.
Na floresta, numa das vezes, literalmente atacado por pequeníssimos mosquitos, tanto ao anoitecer como de manhã. Valeu-me o facto de a malha da rede da tenda ser ainda mais pequena que os pequenos mosquitos e por isso ter uma noite descansada. De manhã ao sair da tenda, tive que arrumar as coisas à pressa, inclusivamente com a tenda molhada, coisas que não se deve fazer por causa dos fungos que danifica o tecido. Parti para a vila mais próxima, onde tomei o pequeno almoço num pequeno jardim e cozinhei uns douradinhos que comprei no dia anterior. Estava com algum receio quanto ao cozinhar no pequeno jardim, a descoberto, no centro da vila e junto à estrada. Receei que os franceses me recriminassem por isso, mas não! Eles sorriam, diziam “bon jour, bon apetit”, e uma senhora que estacionou o carro com a filha que ia trabalhar no cabeleireiro em frente, sorriu e meteu conversa comigo.
Da minha experiência só posso dizer muito bem dos franceses e da França.
Talvez eu venha carregado da mentalidade portuguesa, em que se recrimina mais as coisas, em que não se pode fazer isto, não se pode fazer aquilo, não digas isto, não digas aquilo. Penso algumas vezes que as pessoas me vão dizer que não devia estar ali a cozinhar, ou a dormir na porta da igreja, ou qualquer outra coisa, mas não, cumprimentam-me, sorriem, como se me conhecessem. Quando me vêm a passar, muitos metem conversa comigo, voltam a sorrir e dizem “bom courage, bom chance” (não sei se é assim que se escreve, espero que sim).
A França é na generalidade muito plana, pelo menos por onde passei.
Bordeus utilizei pela primeira vez o couchsurfig.
Encontrei uma jovem escocesa no sul de França, partiu da Escócia de bicicleta e ia visitar a irmã em Sevilha. Parámos, conversámos como se nos conhece-mos e despedimo-nos.
Poucos dias depois encontro um casal canadiano com mais de 60 anos, viajam à boleia em França. Converso com eles, são pessoas educadas e interessantes. Dizem-me que já viajaram de mota na América central e do sul.
Qual o casal português que viajaria à boleia? Será que estou errado, e que eu próprio sou pré-conceituoso… penso que estou a substituir o “pré” por “novos-cnceitos”.
Bom, a França é um país lindo, muito lindo! As casas são praticamente todas construídas e decoradas de acordo com a tradição de cada região. É uma coisa que não acontece em Portugal, onde a variedade da fisionomia e aspecto das casas é super variada.
Além das casas, os passeios, as estradas que têm muitos kilómetros de área reservada aos ciclistas, os jardins, as quintas, o “glamour”, os muitos carros antigos … estou encantado, poderia viver na França com toda a certeza. As quintas são locais de muito trabalho, mas não descoram o excelente aspecto, com construções lindíssimas que respeitam o passado, e têm jardins lindos. Existem muitas estradas com uma área à direita da faixa de rodagem, reservada aos ciclistas. Na floresta existem milhares de kilómetros de caminhos, alcatroados ou não, com sinalização apropriada.
Diariamente, as pessoas utilizam a bicicleta como um transporte. Novos, velhos, senhoras, homens… é bastante cool observar como o fazem naturalmente, dá-lhes estilo. As bicicletas têm quase todas suporte traseiro e algumas dianteiro, têm alforges para transportar as compras, cesto à frente… que “glamour”.
Além destes aspectos descrevo a França como um país com uma agricultura muito forte, pelos campos muito bem cultivados e pelas poderosa máquinas agrícolas, exploração de florestas e corte de árvores (muita floresta), produção de leite e carne bovina, pois encontrei vacas por todo o país. Compro algumas vezes leite nas explorações, ente 0.50€ e 1€ por 1.5L de leite puro.
Maravilhosa a França… no entanto existem 2 aspectos que necessitam ser revistos. Tenho muita dificuldade em encontrar água na rua ou jardins e muitas estações de serviço também não têm água. Por vezes peço águas às pessoas das casas, e por 2 vezes me deram garrafas de água novas.
Outro aspecto é que também tenho dificuldade(!) em encontrar ecopontos.
Numa tarde resolvo descansar um pouco no centro da vila, e uma senhora mete conversa comigo, é francesa mas fala inglês, o que é raro. Falamos um pouco, e refere-me que além de historiadora, licenciou-se em direito à uns anos, para poder ajudar o meio ambiente. Confirma-me que em França, este aspecto está muito atrasado.
Tenho vivido momentos mágicos diariamente, com momentos fantásticos de prazer pelo que estou a fazer, em cada momento estou num local diferente, as pessoas têm-me surpreendido pela positiva.
Outro aspecto interessante, é que os franceses são mais regrados na estrada, e como são utilizadores generalizados da bicicleta, ao ultrapassarem-me, fazem-no deixando uma gigantesca distância entre mim e eles.
Em Bordeus, fico numa casa centenária de uma couchsurfer, que partilha a casa com mais alguns jovens.
No sul de França… o sol está-se a pôr, necessito de água para banho e outras actividades, já vi que poderei acampar junto na igreja que está rodeada pelo cemitério, na “petit village”. Entro no jardim de uma casa tipicamente francesa, uma casa maravilhosa, para pedir água. Uma senhora com mais de 60 anos, dona da casa atende-me e diz-me que tomarei banho quente na casa dela e poderei dormir no jardim. Sou recebido depois pelo seu marido, filha e genro(nos seus 40 anos), 2 netos e 2 netas. As crianças ficam encantadas… ajudam-me a montar a tenda no imenso jardim, explico-lhes sobre as coisas que trago comigo, eles ficam encantados. Entro na casa centenária, de pedra… não sei como explicar, a casa é tão encantadora por dentro como por fora, tem coisas muito antigas, a dona da casa pintou as paredes com árvores, pássaros etc… tomo um banho quente, e de seguida tomo um chá com biscoitos na sala, serenamente sentados conversando. As 4 pessoas falam inglês, vivem na região de Paris e aquela é uma casa de campo. Referiram-me que podia passar pela casa deles no norte…mas passo a 100 kms à esquerda de Paris.
Antes de entrar em Le Mans, verifico a pressão dos pneus (máxima, para peso máximo), até parece que o fiz de propósito, mas não. Quando dou por mim, estou em pleno circuito. As curvas têm aquelas delimitações coloridas e recortadas, 4 rails de protecção de altura, entre outro tipo de acessórios e informação. O mítico circuito de Le Mans, estende-se às estradas limítrofes ao circuito privado.
Passo por Rechelieu, maravilhoso. (“passo a noite com o Dartacão e os 3 mosquteiros, no dia seguinte, o cardeal Richeliou quis saber quem eu era…” – Estou a brincar. Uma vila pequena e encantadora também.
…mais uns dias, vou na estrada principal, é fim de dia, começo a varrer com o meu olhar, se encontro alguma igreja nas “petit vilages” ao lado das estradas pirincipais. Os telhados das igrejas são ponteagudos, muito altos, e por isso fáceis de encontrar. 1km para a direira e estou numa “petit villgage” que mais parece ter sido tirada do paraíso, linda, típica. Uma pequena igreja com alpendre rodeada pelo cemitério. Uma senhora estaciona o Suzuki Vitara, próximo da igreja dirijo-me a ela, para lhe dizer que vou passar ali a noite. Ela não mora ali, vem visitar a campa do filho, morreu há 2 meses num acidente de automóvel, com 26 anos. Ouço a história dela…já descalço (preparava-me para o meu banho) ouço a sua história em meio francês e inglês. Acompanho-a à campa. Audrey, nora (não casaram mas viviam juntos à 4 anos) tem 25 anos, acaba de chegar num Land Cruizer, convida-me para tomar banho em sua casa e depois para lá dormir. Tem 2 cães enormes, cavalos, é monitora de aprendizagem de andar a cavalo, não fala inglês.
Oferece-me o jantar enquanto vemos televisão na sala…falamos, também por gestos para ajudar à compreensão, rimo-nos. Uma pessoa encantadora, embora bastante triste por ter morrido o seu companheiro.
Noutro dia fiquei em casa de uma família cujo senhor é da Ilha da Reunião, junto a Madagascar. Partiu para a França aos 16 anos, vive em França há 50 anos e vai vender a sua casa, carro e 2 pequenos barcos e regressar com a mulher (francesa) à Ilha da Reunião, um pequeno paraíso.
Quero referir um aspecto… quando vou às compras, entro com a bicicleta para dentro do supermercado. No Lidl, entro pela porta de saída quando as pessoas vão sair, e falo com a senhora da caixa, nunca me disseram que não, e grande parte delas sorriam simpaticamente dizendo que sim.
Ainda não coloquei informação no blog, não tenho tido internet, pois também não é muito fácil encontrar net em espaços públicos, e confesso que destas coisas da informática, levo algum tempo a absorver conhecimento.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Espanha

… alpendre de Igreja após Pontevedra…
E em Santiago converso com uns italianos que me desaconcelham a visitar o sul de Itália, devido aos imensos ladrões que por lá andam, apenas até ao centro.
Deixo Santiago para trás, chove, abasteço-me com 8litros de água numa bomba de gasolina(são para o banho e para beber, para a papa láctea). Sim, um ex-depósito de liquido refrigerante faz parte do meu equipamento para transporte de água, alojo-o entre o espigão do selim e a rack traseira. Pelas 20.30h está anoitecer, estou cansado e depois de algumas tentativas meios envergonhadas sobre onde posso encontrar um local seguro para pernoitar, pergunto de forma directa e entusiasta a um casal de uma moradia se posso ficar debaixo do alpendre. Fico na garagem a dormir no sofá.
Novamente chuva, e mais chuva, mas tenho um casaco e umas luvas impermeáveis e de aquecimento que fazem toda a diferença. Com chuva custa começar, mas depois aquecemos e com o equipamento referido, há muito conforto. Quanto às calças impermeáveis têm alguns contras, são muito largas em baixo e tocam na roda pedaleira e é preciso atar um atacador ou um elástico. Atrapalham mais na pedalada. Portanto, apenas com umas calças de lycra de aquecimento, mesmo com chuva, não se tem frio, pelo menos na ausência de muito frio.
Visito a Corunha, muito fixe de se visitar. Novamente uma ciclovia junto ao mar, praças lindas. Engraçado que os espanhóis têm lindas praças, que são óptimos locais de encontro de pessoas e são locais muito aprazíveis para se estar. Pedalo até Miño, fiquei num albergue, paguei 5€, porque fui informado por uns locais que o custo seria apenas de 1 ou 2 €. O albergue está fechado, não tem lá ninguém, mas o espanhol que me acompanha de carro para me indicar o local telefona para o número indicado à entrada, vem a protecção civil, são 5€ para dormir num local encantador, à frente de um rio, umas instalações lindas de mais, construída em pedra e madeira, maravilhoso!!! Cozinho grãos, massa letria doce e passo uma noite no céu.
De manhã, lubrifico a corrente, parto para um novo dia, e numa descida e sem esforço faço questão de passar a corrente lubrificada por todos os carretos… “tá tá tá tá tá…” , a corrente saiu para o lado dos raios, partiu 8 e danificou todos os outros. Fico aborrecido com o acontecimento, mas viajo com uma convicção tão grande, e com tanto prazer que tudo o que me acontece, é-me brindado com novos episódios e experiências super enriquecedoras. Falo com algumas pessoas, depois com o porteiro de uma escola sobre a existência de um “taller” de “bicis” mais próximo. Entretanto ia a sair uma linda Volvo Station, é Mickeê (escrevo como se diz)… o director da escola faz triatlo, e está na África do Sul numa prova, este é o director que o substitui na sua ausência… tem 2 argolas de ouro numa orelha, é professor de educação física e faz parte da tripulação de um veleiro patrocinado pela Telefónica (informações do porteiro). Entretanto, já o porteiro tinha comunicado com a guarda civil, que compareceu mas que diz não poder levar-me até ao mecânico mais próximo. A bicicleta com mais de 60kg de peso incluindo carga não podia andar. A protecção civil chama a policia local, entretanto “Mickeê” que se tinha ido embora regressa, e mostra-me uma roda traseira completa, com disco. E parece que fiz mover muita gente: Estava lá a guarda civil, protecção civil, e Mickeê com a roda.
Vou até ao “taller” recomendado e previamente contactado por “Mickeê”, 12 kms com muita(!) subida, a minha roda danificada, viaja em cima das malas traseiras, e se a minha bicicleta já era objecto da atenção dos transeuntes, agora com uma roda suplente ainda mais. Deveria lá reparar a roda e deixar a roda emprestada, “Mickeê” iria lá buscar a roda depois.
Vou até Pondedeume, um “Pueblo” situado numa foz de rio, lindo, típico pueblo à beira foz plantado. O “taller”(mecânico) trabalha para a loja onde me dirigi, mas hoje não vem, está a reparar um barco. A loja vendia barcos, canoas, material para actividade marítima, bicicletas, muito engraçada. Parto então para Ferrol, e comunico ao mecânico que no dia seguinte regressaria com a roda, mas “Mikeê" entretanto comunica com a loja em Ferrol e diz que vai lá buscar a roda depois (a 30kms de distância). Pessoas com muita experiência de vida e abertas, são mais à frente!!!!!
Pago 23.10€ pela substituição de todos os raios de um lado da roda traseira, é aceitável. La Roca, é o nome da loja que é tão conhecida na região. Tem vários mecânicos a trabalhar, e uma montanha de bicicletas, sim uma montanha, porque estavam todas encavalitadas, fazendo um monte, são bicicletas que já estavam reparadas, nem sei como poderiam aceder a uma bicicleta que estivesse lá no meio.
Parto de Ferrol, já bem tarde, sigo pela estrada mais acima, (AC 116), quando me desvio para a pequena aldeia de Átios, situada à beira da estrada, vou à procura da igreja para pernoitar. Falo com um espanhol mais ou menos da minha idade, jogava à bola com os filhos… diz-me que o local é seguro, entretanto a tia convida-me a entrar e a ficar numa sala. A tia Célia tem mais de 70 anos, mesmo assim convidou-me a entrar. Tomo um banho com a água do meu garrafão, junto no pátio de cimento, ao lado um galinheiro. Uma aldeia com poucas casas mas muito bonita. Célia vive com o irmão Salvador, que entretanto chega, leva-me uma lata de conserva bastante grande, recuso… volta de novo, traz-me pão, volto a recusar e agradeço-lhe dizendo-lhe que não quero causar gastos para eles. Peço-lhes unicamente uma folha de de alface para cozinhar com os grãos.
De manhã, o irmão de Célia convida-me para o pequeno almoço, aceito. Depois pergunto-lhes por leite de vaca puro… avizinha ao lado tem uma vaca e oferece-me 1.5L. Que Deus os abençoe.
Visito Cedeira, bem lá em cima na Galiza. Um “pueblo” lindo situado numa reentrância de mar, é altura de ir beber o leite de vaca puro com bolachas. Como viajo sozinho, tenho ne cessidade de comunicar, começo a falar com Juan, está a pescar… o dia está quente, está sol. Sento-me na muralha e converso com ele. Juan tem 38 anos, ex-militar, empresário da indústria das madeiras, encontra-se em tronco nú a pescar naquele pequeno paraíso. Está sentado numa cadeira de rodas, teve um acidente de trabalho. Temos uma conversa simples mas animada, falamos da vida, sempre que pesca um peixe volta a devolve-lo ao mar, diz que não tem dimensão suficiente. E vai-se embora apenas com um peixe.
Ortigueira, outra reentrância de mar, outro paraíso! Depois fico pela primeira vez na minha tenda, num pinhal na foz de um rio, noutro paraíso! Faço uma fogueira, onde aqueço grãos previamente cozinhados por mim no dia anterior, e cozinho massa letria. É engraçado cozinhar na fogueira.
Os espanhóis preservam na generalidade muito bem a arquitectura antiga das casas, e por isso tanto os “pueblos” como as cidades estão na generalidade bastante típicas.
Após Luarca, num pequeno “pueblo” chamado Valdes, fui mandado parar por uma senhora, que era a dinamizadora dos amigos do Caminho de San Tiago. Como o albergue estava em obras fiquei numa casa de cultura, muito antiga e que foi remodelada. Uma verdadeira casa rural. Covadonga, filha da senhora que me mandou parar, mostro-me a casa amavelmente e conversamos durante algum tempo.
Cometi duas vezes o mesmo erro, chegar à tardinha a uma grande cidade. Onde se fica numa grande cidade? Num albergue com certeza, mas 5€ por cada noite muitas vezes é dinheiro.
Em Gijón, fiquei num campo onde pastavam as ovelhas da parte de cima da cidade, e fiquei com uma vista fantástica sobre a cidade toda iluminada. Combinei com o senhor que estava a cortar erva para as ovelhas, onde colocaria a chave do cadeado do portão.
Num destes dias, parti tarde, fui à internet, e por isso quis fazer mais kms. Já era noite e ainda eu circulva na estrada nacional, e ainda por cima estava e obras. Resultado, após falar com uns locais subi 2kms com um declive muito acentuado até um parque de merendas. A relva e a casa referida que tinha um alpendre era visível a quem passava na estrada, e só me restou dormir ao lado de uma casa que parecia ter a ver com as águas, pois olhando para o seu interior tinha umas escadas até ao rio. De manhã, ouvi uma sintonia de pássaros, vi 2 esquilos enormes a passear pelas árvores. Estava ao lado de um parque Nacional dos Picos da Europa.
Passo ao lado de Santander, dizem que é muito bonito, mas gosto mais do campo, da montanha.
Ao chegar muito próximo de Bilbau(a 10kms, e os prédios já começaram a aparecer a alguns kms) à tardinha, cometi novamente o mesmo erro, mas fui aconselhado por algumas pessoas a ir a uma povoação 2 kms atrás, onde há mais sossego. Começo então a subir monte acima, por um caminho de cabras, e encontro um pastor que me aconselha o terreno do vizinho, fantástico, mais uma noite resolvida. De manhã apressei-me a sair para fora do campo das vacas, elas começaram a descer a encosta.
Os melhores locais para dormir, são na generalidade pequenas povoações ao lado das estradas, na igreja local, e se esta tiver cobertura nem é preciso montar tenda. Se possível, escolher povoações mais afastadas das estradas nacionais muito movimentadas e auto estradas, devido ao ruído.
Tenho encontrado alguns peregrinos, não muitos. Kathrin, uma alemã quarentona que vive em Colónia, deu-me o seu mail, e disse-me que poderia ficar alguns dias em sua casa, pois Colónia era muita bonita.
Cruzei-me com um suíço de mais de 50 anos, com uma verdadeira máquina de touring. Cruzou a estrada e dirigiu-se a mim. Já vinha com 1800kms desde a Suiça, mandou a tenda para casa e agora fica em hostels. Diz que faz todos os dias mais de 100kms, e que deve ser por passar tanto tempo a pedalar que lhe dói o traseiro, e tem um assento Brooks!
Um Belga, que faz o caminho a pé, dorme na tenda sempre, mesmo nas cidades, espera que escureça, e depois monta a tenda em parques mais recatados.
Continuo a mover olhares por onde passo, e aqui em Espanha dizem sempre “mucho peso”. A bicicleta está de facto muito pesada, mas está muito bonita de se ver.
Outro aspecto a ter em conta, é que os produtos de supermercado, são na generalidade caros em qualquer local, principalmente o pão, e onde houver um Lidl, aí há um Oasis para me poder abastecer.
Tive uns desapertos de parafusos das 2 racks, frente e traseira. A da frente reapertei, e não voltou a desapertar. A traseira, como o parafuso saio mesmo da rosca, substitui por parafusos mais compridos e coloquei porca do outro lado, e também não voltaram a desapertar. No entanto, refiro que é sempre necessário observar os diversos elementos mecânicos.
Já combinei dormida em Bordeus, deverá ser a primeira vez que vou utilizar o couchsurfing, em Espanha, ninguém me respondeu.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Portugal

A minha viagem pela Europa em bicicleta, iniciou a 2011-03-29 num dia que terminaria em Almeirim, onde fiquei a pernoitar nos bombeiros.
Não levei pão de casa, e por isso ia no caminho a pensar insistentemente que tinha que comprar pão, até porque ia com fome, e tinha apenas o chouriço, queijo e presunto, mas não tinha pão. Tanto pensei no pão, que encontrei um saco com pão no chão, a caminho da Atalaia. O saco estava fechado e o pão estava bom… pensei que ter encontrado o pão era uma demonstração da divina providência.
Fiz antecipadamente uns contactos através do couchsurfing, e tinha previsto uma dormida em Leiria. A couchsurfer Sandra, não estaria em casa por volta das 19.00h mas sim pelas 21.00h, mas jantaria com a colega que supostamente estaria em casa quando eu chegasse.
Toquei à campainha na morada que me foi dada, e nada…esperei até às 20.30h e fui-me embora. Os bombeiros Municipais de Leiria recusaram o meu pedido de dormida, e enquanto me dirigia para a Cruz vermelha, uns ciclistas que davam a sua volta de fim de dia ofereceram-me dormida, eu recusei porque eles viviam a 3 kms de distância e ainda estavam a iniciar o passeio. Agradeci-lhes calorosamente. A Cruz vermelha recebeu-me de braços abertos, uma equipa de jovens ficaram ali a dormir por minha causa. Entretanto, liga-me a colega de Sandra, desdobrando-se em desculpas…Sandra teria-se esquecido de lhe comunicar a minha chegada, e referiu que estaria em casa dentro de 1 hora… …quando eu ia tomar banho, Sandra entra nas instalações da Cruz Vermelha. Bonita, amável, e de uma educação superior, pede desculpa. Entre estudos na universidade e trabalho, esqueceu-se de avisar a colega da minha chegada e tinha deixado o telemóvel no cacifo quando estava a ensaiar teatro. Ainda me perguntou se queria ir dormir lá a casa, mas eu tinha sido muito bem recebido ali. Acabámos por ficar a conversar durante 2 horas… 21 anos de rapariga, mas de uma educação fantástica.
No dia seguinte fiquei em Mira, num percurso de 97kms, onde há a registar o rebentamento do pneu de um camião, mesmo ao meu lado. Em Mira fiquei no apartamento das instalações dos bombeiros, fantástico. 111kms até Vila Nova de Gaia onde fiquei nos bombeiros de Coimbrões… e parto de manhã, começa a chover, vou até à ciclovia de Vila Nova de Gaia em Canidelo, junto ao mar, sou convidado por um jovem fantástico, a entrar para o conforto das instalações de um Ginásio desportivo, ali com uma vista fantástica sobre o mar, onde utilizei também a internet.
Passo o resto do tempo na Foz do Porto, debaixo de um abrigo dos pescadores. Chove… quando parto são 16.00h.
…dormida nos bombeiros de Vila do Conde, amabilidade de se lhe tirar o chapéu.
Ao chegar a Valença do Minho os bombeiros recusam o meu pedido de dormida, e parto. 1km à frente quando ia a todo o vapor, encontro um telemóvel no chão, volto para trás e quando o vou apanhar, começa a tocar. É a proprietária… parecia algo insólito! Combinamos entrega do telemóvel na GNR de Valença do Minho, e quando lá chego está lá o casal que percorreu 50 kms para receber o telemóvel. Queriam-me obrigar a receber 30€! Depois de muito negociar fiquei com 20€, mesmo contra a minha vontade, pois não sou nada de aceitar dinheiro.

Bombeiros ali ao lado também se recusaram, e imediatamente ao lado um excelente albergue a 0€! 1 austriaco, 2 alemães, 1 espanhol e um argentino. O austríaco ofereceu-me comida vegetariana com sabor a comida indiana, brutalmente saborosa… o conforto das instalações de um albergue maravilhoso, a conversa com os peregrinos, que dia fixe.
Enquanto percorri Portugal, ia ouvindo alguns “englesismos” do tipo “everything alright, good, etc etc” à minha passagem, pensavam os transeuntes que eu era estrangeiro. O bike touring ainda não muito atribuído aos portugueses.
Valença do Minho fica junto à fronteira, e daqui para a frente nada de bombeiros. Teria que contar com a minha perícia em encontrar um local confortável para montar tenda, ou outro qualquer para dormir…